a casa da vovó hilda

(english translation below)

desde criança sempre fui muito tímida. a familia por parte da minha mãe é super extrovertida, tenho uns sete tios e todos eles são divertidos e falam alto em qualquer lugar. eu não sabia o porque eu não gostava de tanto barulho assim, apesar de que jogar bingo com eles me arrancava umas boas risadas. por parte de pai, as coisas eram meio diferentes.

nessa parte da minha familia, ninguém falava tão alto assim. na verdade, a minha vó, a hilda, era até bem timida. essa parte da familia tem bem menos gente. e acho que por isso, pela quietude e por me ver na timidez da minha vó, sempre tive um lugar no coração por ela e pela casa dela.

sabendo hoje em dia que sou autista, acho que faz sentido. era um lugar onde não tinha muitos barulhos altos e ninguém era tanto de puxar vários assuntos ou fazer comentários. a verdade é que eu via minha vó pouco. desde os 16, tinha depressão, e não conseguia sair muito de casa igual eu me forçava quando era criança. hoje em dia, sinto falta e me arrependo de não ter ido mais lá e ter me dedicado mais a ser uma boa neta. a gente geralmente se via no ano novo na casa dela pra almoçar e eu sempre dava muitos beijos na vó hilda.

(eu lembro que quando a gente viajava pro interior e ela ia também, eu e minhas irmãs brincavamos com o cabelo dela no rio. colocava shampoo nele e aí botava tudo pra cima, tipo um moicano. e ela sempre deixava. quando a gente pulava do trapiche, todo mundo gritava “pipoca da vóvó hilda!” porque por algum motivo a gente era obssecado pela pipoca que ela fazia lá no fogão).

recentemente, tenho gostado muito de fotograr coisas. queria muito voltar na casa da minha vó pra tirar umas fotos de lá. queria olhar os discos dela e também ver se ainda tem algum dos gatos que ela tinha. acho que essa memória afetiva que eu tenho da casa da vovó hilda faz com que eu me lembre muito bem dos momentos que tive com ela. pra quem me conhece, sabe que a minha memória não é boa de jeito nenhum. as vezes confundo o dia do meu aniversário (2 ou 3?) e datas de pessoas que conheço a mais de 10 anos. rostos e pessoas também. até lugares. e a timeline dos acontecimentos na minha cabeça é meio confusa grande parte das vezes. mas eu lembro muito bem da hilda, da voz dela, do cabelinho branco dela e das mãos dela.

Since I was a child I have always been very shy. My mother's family is super extroverted, I have about seven uncles and they are all fun and talk loudly wherever they go. I didn't know why I didn't like so much noise, although playing bingo with them made me laugh a lot. On my father's side however, things were a little different.

In that part of my family, no one spoke that loudly. In fact, my grandmother, Hilda, was quite shy. this part of the family has far fewer people. and I think that's why, because of the quietness and because I saw myself in my grandmother's shyness, I always had a place in my heart for her and her house.

knowing today that I'm autistic, I think it makes sense. It was a place where there weren't many loud noises and no one was much of a talker or commentator. The truth is that I saw my grandmother little. Since I was 16, I had depression, and I couldn't leave the house as much as I forced myself to when I was a child. Today, I miss it and regret not having gone there more and having dedicated myself more to being a good granddaughter. We usually saw each other at her house for lunch on New Year's Eve and I always gave Grandma Hilda lots of kisses.

(I remember that when we traveled to the countryside and she went too, my sisters and I would play with her hair in the river. We would put shampoo in it and then put it all up, like a mohawk. And she would always let us. When we jumped from the pier, everyone shouted “Grandma Hilda’s popcorn!” because for some reason we were obsessed with the popcorn she made on the stove).

Recently, I've been really into photographing things. I really wanted to go back to my grandmother's house to take some photos there. I wanted to look at her records and also see if her cats are still there. I think that this emotional memory that I have of Grandma Hilda's house makes me remember very well the moments I had with her. For those who know me, you know that my memory is not good at all. Sometimes I confuse my birthday (2 or 3?) and the dates of people I've known for more than 10 years. faces and people too. even places. and the timeline of events in my head is kind of confusing most of the time. But I remember Hilda very well, her voice, her white hair, her hands and her house.